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Rodovia CE-494, que liga as cidades de Crato e Nova Olinda, no Cariri, foi construída com concreto. Foto: Diário do Nordeste

 

Tecnologia será apresentada pela ABCP ao governador do Estado, Camilo Santana

 

Por Bruno Cabral / Diário do Nordeste
06 de novembro de 2019 

Com os sucessivos aumentos do preço do asfalto, observados nos últimos anos, o uso do concreto na pavimentação de rodovias vem se tornando cada vez mais atrativo. Hoje, a economia não se dá apenas no longo prazo, uma vez que o concreto possui uma vida útil maior, mas, em boa parte dos casos, também na implantação do pavimento. Foi pensando nisso que representantes da Associação Brasileiro de Cimento Portland (ABCP) decidiram apresentar ao governador Camilo Santana, no próximo dia 11, um estudo sobre as vantagens em utilizar o pavimento rígido (concreto) nas estradas cearenses.

A informação foi dada em primeira mão pelo colunista Egídio Serpa e deve redirecionar os R$ 750 milhões anuais gastos pelo Estado em construção e reparos de vias para uma nova e mais moderna tecnologia de construção. “Não é para qualquer estrada que o concreto é viável. Tem de ter um fluxo mínimo. A ideia é aplicar o pavimento de concreto em vias cujo tráfego diário seja superior a 500 veículos comerciais (ônibus e caminhões). Neste caso, o custo inicial do concreto já é menor do que o do asfalto, uma vez que, para suportar o fluxo de veículos pesados, é necessária camada maior de asfalto”, diz Carlos Teles, diretor comercial da Cimento Apodi.

Teles diz que até pouco tempo atrás, os ganhos com o uso do concreto só apareciam depois de “muitos anos”, pois o asfalto, embora fosse mais barato, tinha maiores custos de manutenção. “Hoje, você tem ganhos desde o início. Mas o setor tem que acordar para o pavimento de concreto”, diz. “Desde 2015, o CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo) triplicou de preço”.

 

Preço e manutenção

De acordo com um estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), entre setembro de 2017 e fevereiro de 2019, o preço do asfalto teve aumento de 108% no Brasil, o que resultou tanto no aumento do custo das obras de construção como na manutenção. Segundo o executivo, além do custo inicial mais baixo, após 20 anos, considerando os custos de manutenção, a pavimentação de concreto sai pela metade do preço. “A manutenção do concreto é muito pequena, enquanto o asfalto demanda, em média, três recapeamentos em 20 anos”, diz.

 

Estradas no Estado

Hoje, no Ceará, o pavimento de concreto está presente na CE-494, que liga o Crato a Nova Olinda; em parte do 4º Anel Viário (BR-020), em obras; e na Avenida Dioguinho, na Praia do Futuro. A estimativa é de que o Governo do Estado gaste por ano cerca de R$ 750 milhões com construção e manutenção de rodovias. De acordo com a Superintendência de Obras Públicas (SOP), o Ceará tem 8.038,8 km de rodovias estaduais pavimentadas. O pavimento rígido é utilizado em cerca de 15 km, no trecho Crato-Nova Olinda, além de pequenos intervalos de rampas e pontes.

“No momento, não há projeto para rodovia estadual em concreto no Estado, considerando o perfil de carga das CEs e os custos”, disse a SOP, em nota. O projeto de duplicação do 4º Anel Viário, de responsabilidade do Governo Federal, é executado atualmente pelo Governo do Estado através da SOP, e tem uma nova pista com 26 km de extensão em concreto.

A adoção do concreto nas estradas cearenses também beneficia as empresas locais do setor cimenteiro, pois praticamente toda a produção é feita no Estado. “Com esse impacto na indústria, o Estado arrecada mais impostos, pois são fábricas de dentro do Ceará que vão fornecer o cimento, enquanto o asfalto é praticamente todo importado”, diz Teles.

 

Preço por quilômetro

Se, em 2013, a construção do pavimento rígido (concreto) só passava a ser mais vantajosa do que a do flexível (asfalto) em vias com Volume Médio Diário de veículos comerciais (VDMc) acima de 2 mil, em 2018 o concreto tornou-se mais vantajoso em vias com VDMc acima de 500, sendo 4,5% mais barato do que o asfalto. Segundo um estudo realizado pela ABCP, em 2018 o custo de construção do quilômetro de vias de 7 metros de largura era de R$ 1,261 milhão para o concreto e de R$ 1,321 para asfalto. Considerando vias com volume diário de 500 veículos comerciais.

Já uma pesquisa da Votorantim Cimentos avaliou a eficiência da construção e manutenção durante um período de 20 anos de um pavimento rígido. Os custos de construção e manutenção foram 54% menores com a utilização do concreto.

No Brasil, há atualmente 6.800 quilômetros de estradas com pavimento rígido. No entanto, cerca de 99% das rodovias brasileiras ainda utilizam o asfalto. Mas com a redução dos custos do concreto em relação ao asfalto, esse número tende a crescer, segundo estima a ABCP.

 

Custos podem ser reduzidos

O uso do concreto na pavimentação de rodovias poderá reduzir os custos com manutenção de veículos, que hoje representam de 10% a 15% do frete. De acordo com Heitor Studart, presidente da Câmara Setorial de Logística (CSLog), se fosse retirado metade desse custo, com a utilização do concreto nas estradas, haveria diferença no preço final dos produtos para o consumidor.

“Isso faz uma grande diferença na ponta do consumo. Não tenha dúvida de que o retorno do concreto é muito melhor. A competitividade nestes aspectos para as transportadoras não terem gasto mensal de manutenção de veículos é maior”, avalia.

Studart ressalta que a vida útil e a capacidade de transporte de carga em estradas que utilizam o pavimento rígido (concreto) são maiores em relação ao asfalto. Para ele, isso faz diferença na hora da escolha do modal rodoviário pelas empresas transportadoras.

“O transporte por tonelada por eixo aumenta sobremaneira. Além disso, as intempéries não afetariam tanto quanto as estradas com pavimentação flexível (asfalto). Não tenha dúvida de que a vida útil e a competitividade com o concreto são muito grandes. Primeiro, pelo suporte de carga. Você tem condição de levar mais tonelada por eixo do transporte. Segundo, a vida útil, que é o dobro em relação ao asfalto”, acrescenta Studart.

O presidente da CSLog diz ainda que numa retroárea portuária é importante ter estradas de concreto. “Porque é onde tem muitos caminhões transportando, por exemplo, pás eólicas de 85 metros com caminhões com 10 eixos. Então, tem que ser um pavimento de concreto. Caso contrário, não aguenta a pressão”. Studart afirma que a CE-155, que liga a BR-222 ao Porto do Pecém, vai precisar numa próxima reforma ser feita de concreto. “Apesar de o reparo já estar sendo feito, a médio prazo a CE-155 já terá que ser feita de concreto”, arremata o presidente da CSLog.

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